A palavra é...
Agradecimento.
Meu nome é Jefferson Cabral.
Tenho quase 49 anos e já de algum tempo orgulho em ser brasileiro. E já
de algum tempo, orgulho em ser brasiliense.
Hoje digo com orgulho, orgulho em ser os dois.
Nasci quase com a cidade, tive prazeres e desprazeres mil por isso – em
outros tempos a ilha da fantasia, a cidade dos trens da alegria,
símbolo/sinônimo da corrupção (capital de um país conhecido pela corrupção),
cidade dos marajás, de servidores públicos conhecidos pela outra 99% parte do
país como maus servidores públicos a ganharem sem nada fazer (ao contrário da
outra 99% parte da população nacional, além ilha da fantasia, que trabalhava).
Foi duro crescer, conviver, ver, se fazer não ver, se fazer não ouvir
piadas mil de pessoas mil, de todas as partes, sobre o fato de se ser brasiliense,
sobre o fato de se estar no centro dos desmandos, dos desmazelos, dos
desperdícios, da corrupção como todos diziam. A ironia assim mesmo, no meu
íntimo, era saber que se existiam tais adjetivos quanto à “minha cidade”, isso
se devia ao fato de eles serem feitos por pessoas mil, vindas de lugares mil (dos
mesmos lugares das pessoas que tanto falavam mal daqui).
A ironia era saber que os que se referiam a aqui pela corrupção, por
exemplo, estavam se referindo na verdade aos próprios seus conterrâneos, pois
sendo a cidade nova, a cidade não tinha, ainda, condições de ter seus próprios
corruptos nativos. Isso me servia, de certa forma, de alento (de triste
alento). Claro que nunca tive coragem de dar uma resposta dessas pra ninguém,
até porque eu via com tristeza que meus compatriotas além fronteira DFenses tinham suas razões, até porque
eu tinha vergonha de nós da capital sermos vistos daquela forma, até porque não
adiantaria eu brigar com “o mundo todo” (mundo além DF), até porque eu não
queria brigar, irritar, me desgastar em defender algo que eu mesmo não
acreditava, defender uma realidade que eu via, com tristeza, da mesma forma
ferida dos que a mim dirigiam palavras de sofrimento, ferimento, tristeza, desesperança,
vergonha, dor. Achava não ser o caso, e não era.
No íntimo, no entanto, uma vontade, um sonho, de ver um mundo melhor,
viver um mundo melhor – sou um otimista por natureza. Minha resposta sempre
deu-se muito mais por atos do que por afrontas, muito mais pautada em reflexo
de exemplos, de bons exemplos os quais sempre procurei tomar mais pra mim como
um norte a ser seguido em busca do mundo que eu gostaria de ver e de viver,
tipo o dito: se não puder ajudar, que pelo menos não atrapalhe. Ou: aquele que
chega pra criticar, devia ter chegado na hora de ajudar.
E, também, graças a esta
ideologia, esta crença, cresci, vi, e ajudei a transformar realidades, tive o
prazer de ver uma realidade a qual estamos vendo hoje em dia, uma realidade
onde pode ser que a desonestidade não venha tão cedo a deixar de existir, mas, onde se torna cada vez mais difícil, a cada dia, se torna mais difícil ser
desonesto – ainda bem.
Gosto disso.
E gosto muito, e muito mais, do lado positivíssimo do que vejo hoje em
dia, do que vejo já a algum tempo, desta realidade nossa
brasileira/brasiliense/mundo onde, graças também ao fato de estarmos vivendo
num mundo cada vez mais Big Brother, pelo fato de também estarmos cada vez mais
vistos (mais vistos o tempo todo), estamos sendo cada vez mais bem preparados,
mais bem preparados para sermos o melhor que pudermos ser, para fazermos sempre
o melhor que pudermos fazer. O melhor que pudermos fazer não só a nosso favor,
mas, também em prol dos outros. Gosto disso.
Gosto de pensar que não estamos fazendo nosso cada vez melhor, cada vez
mais, não só por estarmos sendo vigiados e/ou preparados para isso, mas,
estamos fazendo nosso melhor, cada vez mais, também, numa tendência natural de
acompanhamento de um mundo que melhora cada vez mais a cada dia, numa tendência
de um mundo cada vez mais povoado por pessoas de bem a fazerem o bem e, por
reflexo, tornarem o mundo cada vez melhor a partir de seus próprios mundos cada
vez melhores. Acho isso lindo.
E nesse aspecto digo-me agora orgulhoso do mundo que vejo a partir das
pessoas que vejo, do comportamento, da honestidade, da bondade, do sorriso, do
preparo, da boa-vontade, do se importar, do querer o melhor a outrem, de
qualidades mil boas que tanto tenho visto em pessoas da nossa realidade atual (e
cada vez em mais intensidade). Qualidades mil boas que vi com muita intensidade
no decorrer destes últimos dias em que tive a oportunidade de conviver com
funcionários e corpo clínico de um hospital público, do Hospital da Ceilândia.
Parabéns funcionários mil deste hospital. Vocês são dez, nota dez!
Pra não dizer mil.
Parabéns a todos vocês.
Parabéns senhor governador, administrador, diretor, servidor público
(público ou terceirizado), parabéns a vocês todos que fizeram e estão fazendo
da realidade, deste hospital, a realidade que ele se tornou, está se tornando e
que, certamente, irá melhorar muito mais. Parabéns mesmo.
Já não é de hoje, em minha vida, que vejo pessoas a reclamarem (é muito
mais fácil vermos pessoas que reclamam do que as que elogiam).
No decorrer destes últimos dias tive a oportunidade de ver e conviver
com pessoas diversas naquele hospital – meu pai, José Cabral, esteve internado
lá. E graças a Deus, e graças à maravilhosa equipe, à maravilhosa bem
treinadíssima equipe (toda) daquele hospital, graças, meu pai, a exemplo de tantas
outras pessoas (pais, mães, filhos, filhas), todos tendo alta por serem tão bem
tratados. Literalmente, bem tratados.
Desde o pessoal da limpeza, da segurança, até a enfermagem, os médicos,
o que vi foi algo, foi uma realidade que me fez muito bem, que me deu muito
orgulho de ser brasiliense, de ser brasileiro, o que vi foi uma realidade que,
sinceramente, eu não quis deixar passar em branco, sem nada falar, sem exaltar.
Dentro das realidades todas (negativas) que vivi e que vi no decorrer
de minha história, sempre vi o que vemos e aprendemos a acreditar, a cada dia, como
sendo o caminho que trilhamos, o caminho do insucesso, insucesso devido aos
maus exemplos, aos maus resultados advindos de más gestões (gestões desonestas)
a prejudicarem os outros, milhares, milhões.
Não sei como foi, ou como eram, as realidades das pessoas de minha idade
espalhadas pelo país além das fronteiras da capital. Certamente diferente.
Sempre pensei, contudo, que por estarem afastadas do centro dos desmandos eram pessoas mais calmas por serem, digamos, mais apolitizadas, e por estarem muitas delas mais distantes de grandes centros tratava-se, por certo, de pessoas mais tranquilas. Claro que eu estava enganado.
Conforme o que vemos hoje em dia, mesmo nos tempos mais calmos de minha infância, coisas chatas e realidades chatas ou ruins sempre estiveram presentes em todas as partes, até nos mais longínquos rincões do país, e por mais distantes (embora se tratasse de um país, de uma realidade de muito mais desinformação do que hoje em dia), ainda assim sempre encontrei pessoas cultas, bem informadas, de opinião formada, inconformadas, assim como eu. Inconformadas.
Prova disso podemos ver em músicas.
Músicas como forma de expressão, como mais uma forma de nossas expressões e que, assim como qualquer uma nossa expressão, nada mais é do uma forma de nos comunicarmos, de comunicarmos o que sabemos, o que sentimos, o que vemos, como vemos. Vejamos algumas daquelas épocas (Partes):
.
Esta música acima espelha bem uma autoestima baixa que era muito presente nos jovens de minha geração, ao menos nos jovens que eu via, os jovens do mundo que eu conhecia (por brincadeira me jogou aqui ao invés de outro lugar do mundo onde eu gostaria, mas, por brincadeira, gozação,.me jogou aqui, mísero, brasileiro, no Rio de Janeiro), Rio de Janeiro como sinônimo de algo ruim. E por mais que, de repente, fosse só eu que visse essa realidade, a própria música em si, vinda de outro estado, pensada e falada por outra pessoa, corroborava meu pensamento e era reiterada em outra:
Ouro de Tolo
Raul Seixas
Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa
.
Repare: Depois de passar fome; Depois de passar fome na cidade maravilhosa.
Cidade Maravilhosa - pra quem não sabe - Rio de Janeiro.
A questão de passar fome, passar necessidade, lutar sem, de repente, ver a luz no fim do túnel, desesperança. Era bem isso que víamos desesperançados.
De repente não de tudo sem esperança, mas, tínhamos uma esperança que não estava aqui, não estava ao nosso alcance e quem podia não a procurava por aqui, ou seja, passar fome na cidade maravilhosa pro Raul era o mesmo que eu via na minha cidade e em toda a parte de minha realidade, de meu país, um país que não era meu, não era o que eu queria, não era o que eu gostaria que fosse, não era como eu gostaria que fosse. Pra quem achava aqui lindo, ou pra quem gostasse daqui (eu não conhecia ninguém que gostasse) podia até ser que houvesse alguém, mas, pra mim parecia bem essa parte da música passar fome na cidade maravilhosa como sinônimo de padecer no paraíso. Pra mim era isso.
Pra mim era bem isso.
E, novamente, confirmada em outra música (essa sim era a minha cara, era bem o que eu pensava, era bem o que pensavam todos de minha geração que eu conhecia) e que, ironicamente, essa música vinda também de alguém lá daquelas bandas da cidade maravilhosa, ou seja: se pessoas da cidade maravilhosa pensavam magoados como eu, o que outros de lugares não tão maravilhosos dentro de nossas fronteiras pensariam?
Partido Alto
Ney Matogrosso
Deus é um cara gozador
Adora brincadeira
Pois pra me jogar no mundo
Tinha o mundo inteiro
Mas achou muito engraçado
Me botar cabreiro
Na barriga da miséria
Nasci brasileiro
Eu sou do Rio de Janeiro.
Pois pra me jogar no mundo
Tinha o mundo inteiro
Mas achou muito engraçado
Me botar cabreiro
Na barriga da miséria
Nasci brasileiro
Eu sou do Rio de Janeiro.
Esta música acima espelha bem uma autoestima baixa que era muito presente nos jovens de minha geração, ao menos nos jovens que eu via, os jovens do mundo que eu conhecia (por brincadeira me jogou aqui ao invés de outro lugar do mundo onde eu gostaria, mas, por brincadeira, gozação,.me jogou aqui, mísero, brasileiro, no Rio de Janeiro), Rio de Janeiro como sinônimo de algo ruim. E por mais que, de repente, fosse só eu que visse essa realidade, a própria música em si, vinda de outro estado, pensada e falada por outra pessoa, corroborava meu pensamento e era reiterada em outra:
Ouro de Tolo
Raul Seixas
Eu devia estar alegre e satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa
.
Repare: Depois de passar fome; Depois de passar fome na cidade maravilhosa.
Cidade Maravilhosa - pra quem não sabe - Rio de Janeiro.
A questão de passar fome, passar necessidade, lutar sem, de repente, ver a luz no fim do túnel, desesperança. Era bem isso que víamos desesperançados.
De repente não de tudo sem esperança, mas, tínhamos uma esperança que não estava aqui, não estava ao nosso alcance e quem podia não a procurava por aqui, ou seja, passar fome na cidade maravilhosa pro Raul era o mesmo que eu via na minha cidade e em toda a parte de minha realidade, de meu país, um país que não era meu, não era o que eu queria, não era o que eu gostaria que fosse, não era como eu gostaria que fosse. Pra quem achava aqui lindo, ou pra quem gostasse daqui (eu não conhecia ninguém que gostasse) podia até ser que houvesse alguém, mas, pra mim parecia bem essa parte da música passar fome na cidade maravilhosa como sinônimo de padecer no paraíso. Pra mim era isso.
Pra mim era bem isso.
E, novamente, confirmada em outra música (essa sim era a minha cara, era bem o que eu pensava, era bem o que pensavam todos de minha geração que eu conhecia) e que, ironicamente, essa música vinda também de alguém lá daquelas bandas da cidade maravilhosa, ou seja: se pessoas da cidade maravilhosa pensavam magoados como eu, o que outros de lugares não tão maravilhosos dentro de nossas fronteiras pensariam?
Manuel
Ed Motta
Gostava de música americana,
Ia pro baile dançar todo fim-de-semana...
Ia pro baile dançar todo fim-de-semana...
Manuel
Foi pro céu
Manuel
Foi pro céu
Foi pro céu
Manuel
Foi pro céu
Ia pro trabalho cansado,
Às 6 da manhã,
Ouvia no seu rádio,
Calcinhas e sutiã
No rádio era um funk,
O trem tava lotado,
Pensou no seu salário,
Ficou desanimado
Às 6 da manhã,
Ouvia no seu rádio,
Calcinhas e sutiã
No rádio era um funk,
O trem tava lotado,
Pensou no seu salário,
Ficou desanimado
Se eu fosse americano
Minha vida não seria assim
Minha vida não seria assim
Dia após dia, ouvia a sua vó lhe falar,
O mundo é fabuloso, o ser humano é que não é legal
Se eu fosse um político, minha vida não seria assim,
Não,não, não, não
O mundo é fabuloso, o ser humano é que não é legal
Se eu fosse um político, minha vida não seria assim,
Não,não, não, não
Caramba! Essa é a minha cara da época, a cara do meu mundo da época. Nós, jovens da ocasião, só víamos como sucesso os políticos (principalmente pelos maus exemplos dos maus políticos corruptos e ricos). Muitos de nós víamos na impunidade do políticos uma forma de sucesso, errada por certo, mas, eles eram ricos e nós gostaríamos de ser também, mesmo que de forma errada, já que a forma errada era considerada certa, ladrões sendo chamados de doutor. Vi muito isso em minha terra. Vimos muito isso.
Outro sonho de consumo, esse também muito presente em nossos pensamentos, era irmos embora, irmos para os Estados Unidos, muitos de nós foram, tenho muitos exemplos de amigos meus que foram, que se deram bem, que estão lá até hoje, que não voltam nem a passeio. Não sabem mais nem se quer nosso idioma.
Quanto a esquecer o idioma, vá lá que não é tão assim, mas, hoje eles falam nosso idioma (seu próprio idioma) de uma forma enrolada, com a língua enrolada, isso eles falam. Falam os que tive de novo a oportunidade com quem conversar, sabe-se lá como estão os outros que nunca mais voltaram.
E, pra não falar apenas de músicas importadas da cidade maravilhosa, peguemos uma da minha cidade. Na ocasião, do ainda conjunto chamado Nativus, que por um imbróglio teve de mudar de nome e hoje se chama Natiruts.
Esta eu coloquei inteira.
Esta é de minha terra. Da minha terra daquele tempo feita por pessoas próximas minhas daquele tempo, próximas fisicamente, próximas em pensamento, próximas em estado de espírito.
Esta é a minha cara daquele tempo.
Caramba!
Quando ele fala que vai pra ir ver o mar e que só no final de fevereiro é que vai voltar, até nisso, ele e essa música sou eu, ou era eu, ou éramos nós, nós daqui. Aqui um lugar seco e imperfeito, além de tudo um lugar seco longe do sonho chamado mar para onde queríamos ir, e iríamos se pudéssemos, principalmente no verão, o lugar sonhado visto na tela da televisão. Televisão que, como que por provocação, sempre trazia, para dentro de nossas casas, aquelas praias lindas lotadas de gente bonita com a qual a gente também queria estar. Queria, sonhava, e só.
Talvez não só isso, porque depois vinha a frustração. E dentro daquela frustração, da desesperança, apenas dois caminhos: resignação ou revolta.
Resignação como sinônimo de simplicidade a procurar ver o belo que tínhamos, a procurar ver algo de belo em nosso universo para, de certa forma, nos sentirmos compensados por não termos o que queríamos, o que gostaríamos. Assim valorizando o céu azul de nuvens doidas pelo fato de não termos o mar (céu muito bonito de minha terra - muito mesmo. Uma vez, inclusive, tive a oportunidade de ouvir de um carioca que o céu de lá não é tão lindo (claro que não é assim), mas, ele referia-se a uma parte do Rio em que não se vê o céu por causa dos prédios (claro que não é assim), mas, ele referia-se ao fato de não poder ver o horizonte (e isso, dependendo do lugar lá, é fato)), aqui não. Aqui, realmente, o céu é lindo. Tanto que passou a ser patrimônio. Institucionalizado mesmo patrimônio. Coisa de Brasília, aqui tudo é institucionalizado, uma cidade planejada, ao contrário do muito que muito vemos por toda a parte, sobre cidades desordenadas.
Na música, a menina que não gosta dos meninos que tocam Reggae e MPB, os meninos somos nós, éramos nós, tanto que Brasília passou a ser conhecida como Capital do Rock, passou a ser conhecida como capital de mais isso, uma capital, capital de muitas coisas. Hoje, o Rock aqui é apenas mais um ritmo e a menina se proliferou, hoje é comum vermos quem não goste de Rock e que goste de Sertanejo, Sertanejo que começou a se refazer naquele tempo a partir da nova roupagem (Sertanejo Universitário), hoje, aqui, muito forte. Samba, MPB, Reggae, Rock, outros todos têm seu público, mas, ficam em segundo plano, digamos assim.
Era uma realidade triste.
E....
Claro que esta realidade mudou. Ainda bem.
A cidade em si trocou o vermelho barro (barro vermelho quase marciano) pelo verde. As árvores cresceram, estão por toda parte, quase não se vê mais cerrado queimado (até isso hoje é pra nós motivo de orgulho, orgulho pelo também cuidado com a natureza onde tenta-se combater as queimadas e com isso manter a cidade mais bonita o máximo possível, e o máximo possível melhor para todos e para tudo).
No ritmo das mudanças (mudanças dos tempos, de pensamentos) vemos no nosso país (e no mundo, por certo) uma maior preocupação com tudo, uma maior preocupação em se manter, em se obter o que há de melhor pois, sabemos que almejando o melhor será melhor para todos nós.
Temos uma maior preocupação com o meio-ambiente, por exemplo, pois, sabemos que o mundo (nossa casa) é a casa que deixaremos para nossos filhos, e não queremos deixar qualquer coisa, queremos deixar o melhor. Lindo isso.
Mesmo que não no ritmo do bom do jeito que gostaríamos, mas, ainda assim, indo.
Tem uma música, mas, esta é atual, foi lançada recentemente pelo inteligentíssimo Arnaldo Antunes, se chama Dizem. Linda!
E ela espelha bem o que somos hoje, diferente do que éramos quando éramos o que falado e as músicas que éramos acima.
Particularmente, sinto-me suspeito por falar bem dessa música pois, ela pertence à retrógrada MPB, MPB que muitos novos não gostam, não curtem, gostam mais de letras mais simples, ritmos mais fáceis, bem o tipo de tudo que vemos hoje em dia onde o que é fácil, não necessariamente bom, mas, que sendo fácil e útil vai ao encontro do prazer, da necessidade da massa e, assim sendo, vira sucesso. Um sucesso em que não, obrigatoriamente, o inteligente, o de bom gosto tem lugar e, sendo assim, o inteligente e de bom gosto fica mais para um nicho. No caso da MPB, mais para os não muito novos (retrógrados que nem eu, talvez em extinção). Mas, é o que é. É o mundo em mudança.
Mudanças também para melhor. Mesmo que lentas.
do que há cem anos atrás, dizem
morre muito menos gente
as pessoas vivem mais
ainda temos muita guerra
mas todo mundo quer paz, dizem
tantos passos adiante
e apenas alguns atrás
já chegamos muito longe
mas podemos muito mais, dizem
encontrar novos planetas
pra fazermos filiais
quem me dera
não sentir mais medo
quem me dera
não me preocupar
temos inteligência
pra acabar com a violência, dizem
cultivamos a beleza,
arte e filosofia
A modernidade agora
vai durar pra sempre, dizem
toda a tecnologia
só pra criar fantasia
deuses e ciência
vão se unir na consciência, dizem
vivermos em harmonia
não será só utopia
quem me dera
não sentir mais medo
quem me dera
não me preocupar
quem me dera
não sentir mais medo algum
Linda música.
Bem o que vemos atualmente, ainda bem. Ainda bem que bem diferente do que um dia já vimos.
Trata-se de uma mentalidade, atualmente, bem comum: A mentalidade da informação.
Hoje todos nós vemos, todos nós ouvimos, somos quase telepatas. A tão sonhada telepatia de outrora hoje está ao alcance de todos (mesmo que ainda não seja aquela, a qual nos ensinaram ser a comunicação de seres mais evoluídos), ainda assim está aqui, celularmente, falando. Um aparelho, um conforto, um algo a nos proporcionar coisas impensáveis em outros tempos (sonháveis sim, alcançáveis... só agora) e com isso um mundo vigiado, olhado, comunicável, acontecível. Um mundo incrível onde todos estamos de olho em todos, e querendo só o melhor, um melhor que acontece depressa, cada vez mais depressa, uma evolução veloz a nos apresentar, e nos presentear, coisas e realidades boas a cada dia, mesmo que não na velocidade que gostaríamos - queremos sempre mais. Um mundo que não é mais uma utopia.
O sonho do passado é a realização do presente a nos apresentar e presentear um futuro cada vez melhor.
Claro que temos medo. Não sentir medo algum, como o querido na música, esse sim é uma utopia. O medo está intrínseco à nossa existência, ao nosso plano devido ao fato de nós estarmos aqui em matéria e, sendo matéria, nós nos sabemos falíveis. Uma falência que a única certeza que temos nesta vida, a certeza de que um dia, cedo ou tarde, iremos falir, nosso corpo se ir. Mas, graças a nós cada vez mais preparados, melhor preparados cada vez mais, graças a Deus e seus desígnios de nos permitir cada vez mais o melhor, aprendermos mais para nosso melhor, onde evidenciaremos cada vez mais o que queremos, conquistaremos cada vez mais o que nos seja bom, como por exemplo: vermos e vivermos os bons exemplos; uma cada vez melhor qualidade de vida para todos; um cada vez maior respeito à vida; um cada vez maior respeito a nós mesmos enquanto no interesse sim, também de nossa própria existência.
Sabemos, contudo, que nem tudo são flores.
Mas, sabemos que tudo é amor. Tudo vem de Deus e sendo assim converge para o melhor cada vez mais.
Desafios sempre irão ocorrer: guerra entre interesses e forças.
Mas, ao final sempre a vitória do bem. Sempre.
Agora mesmo eu falando de mim, da realidade que vi e que vejo, falando do dois caminhos que vi em outros tempos - resignação ou revolta.
Tive a graça, graças a Deus, de ter optado pela resignação.
Não fui e não sou tudo o que eu gostaria de ser ou ter sido (isso em todos os aspectos), não mesmo.
Mas, também não fui e não sou todo o mal que eu poderia ter sido e ser. Neste aspecto, só tenho a agradecer pelo que me tornei, onde gosto muito de muito do que vejo, muito do que me vejo. E isso me faz bem, muito bem. Um bem que só pode ter vindo de uma fonte: da fé.
Naquela minha realidade passada de desânimo, desesperança, descrença no sistema, no que eu via, um dia me vi numa situação de escolha. Escolha como um caminho a se dividir em dois caminhos, mesmo.
Uma tarde, depois de muito sofrer, desempregado depois de muitos subempregos (subemprego mesmo, sem direitos, pouquíssimo salário, ainda assim quando subempregado), naquela tarde duas escolhas, dois caminhos: peguntei pra Deus (perguntei mesmo) se deveria eu aceitar as drogas que meus amigos estavam me oferecendo, se deveria ser aquele o caminho que eu deveria seguir, ou se (olhando para o outro lado e vendo uma escola) eu deveria me fazer forte, estudar, buscar o sucesso com o qual um dia eu sonhara.
Optei por estudar (resignação).
Ainda bem.
Graças a Deus, mesmo.
Cresci, venci, perdi. Muitas coisas acontecem no decorrer de uma vida.
Contudo, considero-me um vencedor. Muito mesmo.
Tive, e tenho, filhos lindos (sentido da vida), consegui status (que já se foi há tempos também - não se trata do objetivo certo da vida, pra mim não), consegui uma condição razoável de vida. Enfim sou grato a Deus por minha vida. E quando falo isso, me refiro a tudo.
Gosto muito do que a vida me foi e me é, do que me tornei. Pelo menos a maior parte.
Muitos daqueles meus amigos já não existem mais. Eu estou aqui acontecendo de uma forma que me agrada, e isso me faz bem. Me agradar da maior parte do que eu mesmo faço por mim, do que faço, do que sou, me faz bem.
Da minha busca.
É bom.
E nessa busca tive a graça de ter conseguido levar uma vida relativamente, confortável. Relativamente boa.
Mesmo em meio ao caos.
Sou muito grato a Deus por tudo que a vida me foi. Muito mesmo.
Graças a essa conjuntura de fé e força, digamos assim, tive a oportunidade de ter uma vida acima de padrões. Aqui entra a última parte desse texto.
A última parte deste agradecimento misturado com fantasia, de história misturada com visão, com forma de ver.
Voltando á realidade difícil do que era o Brasil de anos atrás, do que era o Brasil de anos atrás que eu via e conhecia, eu tive a graça, a sorte, a benção de viver a maior parte de minha vida longe dos maiores problemas sociais vivido pela maior parte da população.
Assisti, meio que só vendo mesmo sem ter que viver na carne, todo o drama da maioria das pessoas. Sempre vendo com tristeza por certo o fato de nem todos terem o melhor tratamento de saúde, o melhor ensino, a melhor segurança.
Ainda hoje, muito triste vermos muito do que vemos.
Mas, com tudo isso, mesmo com todo o sofrimento que vemos, que vejo, ainda assim, vejo um mundo melhorando. Sei que existe muita coisa errada ainda, certamente.
Certamente.
Mas, pra mim, como na música do Arnaldo, eu vejo um mundo melhor a cada dia.
Voltando um pouco à minha vida digo que tive a graça, a benção de não ter de me reportar muito a hospitais públicos. Hospitais públicos que, no Brasil, sempre foram alvo de críticas por causa de desmandos, por causa de mazelas de governantes (maus governantes, governantes corruptos) sempre ficaram aquém do ideal do que haveriam de ser hospitais ideais para tratarem as pessoas. Falo isso num misto de alívio e tristeza.
Alívio pois, graças ao fato de eu ter podido me cuidar melhor é que estou aqui hoje. Pra se ter uma ideia, somente no espaço de um ano tive de fazer cinco cirurgias. Nasci com um problema de saúde e se não tivesse podido me cuidar digamos, convenientemente, certamente eu não estaria aqui hoje.
Já, a minha tristeza, deve-se ao fato do ter visto durante boa parte de minha história, e até hoje não vejo as pessoas sendo atendidas, adequadamente, em seus problemas de saúde. É triste isso.
E é comum. Basta ligar a TV e assistir um noticiário, sempre veremos matérias quanto aos não, ou maus, atendimentos do povo em hospitais públicos brasileiros. Sempre.
Até quando, eu não sei.
E isso com relação a tudo no Brasil, qualquer setor: saúde, educação, segurança, justiça, energia, infraestrutura... Tudo. Tudo com falha.
Contudo, aqui uma observação. Uma observação agradecimento.
Recentemente, tive a oportunidade de ver uma matéria (também de telejornal) sobre uma brasileira acidentada no exterior (não me lembro o país). Ocorre que ela tinha de voltar o mais rápido para o Brasil pois, lá ela não poderia se tratar, por não fazer parte das pessoas de lá (foi o que entendi). Uma situação humilhante onde ela, a brasileira acidentada, estava se vendo em que, sem tratamento, a saúde pioraria cada vez mais, a ponto de se tornar irreversível. Irreversível por causa de um não tratamento, um não tratamento por causa de uma política desumana. Foi o que entendi e achei horrível
Creio que ela voltou e se tratou. E agora há de estar boa, espero ter notícias desse caso.
E, neste aspecto, fica aqui, agora, meu agradecimento ao Brasil, ao governo brasileiro, ao governo do Distrito Federal, ao rumo que o país está tomando, ao que nós estamos nos tornando. Fica o agradecimento de um brasileiro agora orgulhoso de ser brasileiro, já de muito tempo orgulhoso de ser brasileiro e brasiliense. Muito mesmo.
Sei que vivo em um mundo falho, em um país falho, numa realidade falha.
Sei que têm muitas coisas a serem corrigidas em qualquer esfera de nossa existência, sei mesmo.
Mas, o que vejo acontecendo em meu país, em minha cidade, ao longo dos últimos anos, muito do que vejo me faz muito bem, me dá orgulho, e eu gostaria de agradecer.
Obrigado por estarem ajudando milhões de compatriotas com programas sociais, com assentamentos em casas decentes, com ensino público (que mesmo que não esteja melhorando, mas, que creio está, ainda assim existe, ao contrário de outros países por aí a fora que não têm ensino público, que não têm saúde pública). Obrigado. E fale mal quem quiser, eu não.
O que vejo são governos e um país se tornando cada vez mais humano, cada vez mais competente na busca pelo atendimento das necessidades do povo.
Obrigado.
E, como exemplo, quero finalizar relatando, um pouco mais, o que foi a experiência que vivi no Hospital da Ceilândia nestes últimos dias e que ensejaram essas minhas palavras.
Poderia eu falar mal? Sim. Mas...
Não é o caso.
Outro sonho de consumo, esse também muito presente em nossos pensamentos, era irmos embora, irmos para os Estados Unidos, muitos de nós foram, tenho muitos exemplos de amigos meus que foram, que se deram bem, que estão lá até hoje, que não voltam nem a passeio. Não sabem mais nem se quer nosso idioma.
Quanto a esquecer o idioma, vá lá que não é tão assim, mas, hoje eles falam nosso idioma (seu próprio idioma) de uma forma enrolada, com a língua enrolada, isso eles falam. Falam os que tive de novo a oportunidade com quem conversar, sabe-se lá como estão os outros que nunca mais voltaram.
E, pra não falar apenas de músicas importadas da cidade maravilhosa, peguemos uma da minha cidade. Na ocasião, do ainda conjunto chamado Nativus, que por um imbróglio teve de mudar de nome e hoje se chama Natiruts.
Beija-flor que trouxe meu amor
Voou e foi embora
Olha só como é lindo meu amor
Estou feliz agora
Voou e foi embora
Olha só como é lindo meu amor
Estou feliz agora
Veja só a névoa branca que sai de trás do bambuzal
Será que ela me faz bem ou será que me faz mal
Eu vou surfar no céu azul de nuvens doidas
Da capital do meu país
Pra ver se esqueço da pobreza e violência
Que deixa o meu povo infeliz
Será que ela me faz bem ou será que me faz mal
Eu vou surfar no céu azul de nuvens doidas
Da capital do meu país
Pra ver se esqueço da pobreza e violência
Que deixa o meu povo infeliz
Beija-flor que trouxe meu amor
Voou e foi embora
Olha só como é lindo meu amor
Estou feliz agora
Voou e foi embora
Olha só como é lindo meu amor
Estou feliz agora
E a menina que um dia por acaso veio me dizer
Que não gostava de meninos tão largados
Que tocam reggae e MPB
Mas isso é coisa tão banal perto da beleza do Planalto Central
E das pessoas que fazem do Cerrado
O habitat quase ideal
Que não gostava de meninos tão largados
Que tocam reggae e MPB
Mas isso é coisa tão banal perto da beleza do Planalto Central
E das pessoas que fazem do Cerrado
O habitat quase ideal
Beija-flor que trouxe meu amor
Voou e foi embora
Olha só como é lindo meu amor
Estou feliz agora
Voou e foi embora
Olha só como é lindo meu amor
Estou feliz agora
Agradeço por está aqui
Manisfestar a emoção
E coloca minhas idéias, sentimentos
Em forma de canção
Manisfestar a emoção
E coloca minhas idéias, sentimentos
Em forma de canção
Agradeço por poder cantar
E ver você ouvir
E tentar entender essa mensagem
Que eu quero transmitir
E ver você ouvir
E tentar entender essa mensagem
Que eu quero transmitir
Beija-flor que trouxe meu amor
Voou e foi embora
Olha só como é lindo meu amor
Estou feliz agora
Voou e foi embora
Olha só como é lindo meu amor
Estou feliz agora
Fim de ano vou embora de Brasília que é pra eu ver o mar
Mas diz pra mãe lá pro final de fevereiro é que eu vou voltar
Que é pra surfar no céu azul de nuvens doidas
Da capital do meu país
Pra ver se esqueço da pobreza e violência
Que deixa o meu povo infeliz
Mas diz pra mãe lá pro final de fevereiro é que eu vou voltar
Que é pra surfar no céu azul de nuvens doidas
Da capital do meu país
Pra ver se esqueço da pobreza e violência
Que deixa o meu povo infeliz
Beija-flor que trouxe meu amor
Voou e foi embora
Olha só como é lindo meu amor
Estou feliz agora
Voou e foi embora
Olha só como é lindo meu amor
Estou feliz agora
Esta é de minha terra. Da minha terra daquele tempo feita por pessoas próximas minhas daquele tempo, próximas fisicamente, próximas em pensamento, próximas em estado de espírito.
Esta é a minha cara daquele tempo.
Caramba!
Quando ele fala que vai pra ir ver o mar e que só no final de fevereiro é que vai voltar, até nisso, ele e essa música sou eu, ou era eu, ou éramos nós, nós daqui. Aqui um lugar seco e imperfeito, além de tudo um lugar seco longe do sonho chamado mar para onde queríamos ir, e iríamos se pudéssemos, principalmente no verão, o lugar sonhado visto na tela da televisão. Televisão que, como que por provocação, sempre trazia, para dentro de nossas casas, aquelas praias lindas lotadas de gente bonita com a qual a gente também queria estar. Queria, sonhava, e só.
Talvez não só isso, porque depois vinha a frustração. E dentro daquela frustração, da desesperança, apenas dois caminhos: resignação ou revolta.
Resignação como sinônimo de simplicidade a procurar ver o belo que tínhamos, a procurar ver algo de belo em nosso universo para, de certa forma, nos sentirmos compensados por não termos o que queríamos, o que gostaríamos. Assim valorizando o céu azul de nuvens doidas pelo fato de não termos o mar (céu muito bonito de minha terra - muito mesmo. Uma vez, inclusive, tive a oportunidade de ouvir de um carioca que o céu de lá não é tão lindo (claro que não é assim), mas, ele referia-se a uma parte do Rio em que não se vê o céu por causa dos prédios (claro que não é assim), mas, ele referia-se ao fato de não poder ver o horizonte (e isso, dependendo do lugar lá, é fato)), aqui não. Aqui, realmente, o céu é lindo. Tanto que passou a ser patrimônio. Institucionalizado mesmo patrimônio. Coisa de Brasília, aqui tudo é institucionalizado, uma cidade planejada, ao contrário do muito que muito vemos por toda a parte, sobre cidades desordenadas.
Na música, a menina que não gosta dos meninos que tocam Reggae e MPB, os meninos somos nós, éramos nós, tanto que Brasília passou a ser conhecida como Capital do Rock, passou a ser conhecida como capital de mais isso, uma capital, capital de muitas coisas. Hoje, o Rock aqui é apenas mais um ritmo e a menina se proliferou, hoje é comum vermos quem não goste de Rock e que goste de Sertanejo, Sertanejo que começou a se refazer naquele tempo a partir da nova roupagem (Sertanejo Universitário), hoje, aqui, muito forte. Samba, MPB, Reggae, Rock, outros todos têm seu público, mas, ficam em segundo plano, digamos assim.
Eu vou surfar no céu azul de nuvens doidas
Da capital do meu país
Pra ver se esqueço da pobreza e violência
Que deixa o meu povo infeliz
Da capital do meu país
Pra ver se esqueço da pobreza e violência
Que deixa o meu povo infeliz
Beija-flor que trouxe meu amor
Voou e foi embora
Olha só como é lindo meu amor
Estou feliz agora
Voou e foi embora
Olha só como é lindo meu amor
Estou feliz agora
E a menina que um dia por acaso veio me dizer
Que não gostava de meninos tão largados
Que tocam reggae e MPB
Mas isso é coisa tão banal perto da beleza do Planalto Central
E das pessoas que fazem do Cerrado
O habitat quase ideal
Era, realmente, uma questão de procurar um sentido, algo para minimizar ou acabar com o sofrimento dos que víamos sofrendo. Sofrendo por toda a natureza que fosse desde por fome, por desemprego, desesperança, impossibilidade, pobreza ou violência. Nesse universo começamos a aprender a procurar beleza em nossa capital, no lugar onde morávamos, onde vivíamos, onde não queríamos estar (não era onde queríamos estar, como queríamos estar, não mesmo. Estávamos, pelo destino, se por brincadeira do destino, talvez. Não nossa).Que não gostava de meninos tão largados
Que tocam reggae e MPB
Mas isso é coisa tão banal perto da beleza do Planalto Central
E das pessoas que fazem do Cerrado
O habitat quase ideal
Era uma realidade triste.
E....
Claro que esta realidade mudou. Ainda bem.
A cidade em si trocou o vermelho barro (barro vermelho quase marciano) pelo verde. As árvores cresceram, estão por toda parte, quase não se vê mais cerrado queimado (até isso hoje é pra nós motivo de orgulho, orgulho pelo também cuidado com a natureza onde tenta-se combater as queimadas e com isso manter a cidade mais bonita o máximo possível, e o máximo possível melhor para todos e para tudo).
No ritmo das mudanças (mudanças dos tempos, de pensamentos) vemos no nosso país (e no mundo, por certo) uma maior preocupação com tudo, uma maior preocupação em se manter, em se obter o que há de melhor pois, sabemos que almejando o melhor será melhor para todos nós.
Temos uma maior preocupação com o meio-ambiente, por exemplo, pois, sabemos que o mundo (nossa casa) é a casa que deixaremos para nossos filhos, e não queremos deixar qualquer coisa, queremos deixar o melhor. Lindo isso.
Mesmo que não no ritmo do bom do jeito que gostaríamos, mas, ainda assim, indo.
Tem uma música, mas, esta é atual, foi lançada recentemente pelo inteligentíssimo Arnaldo Antunes, se chama Dizem. Linda!
E ela espelha bem o que somos hoje, diferente do que éramos quando éramos o que falado e as músicas que éramos acima.
Particularmente, sinto-me suspeito por falar bem dessa música pois, ela pertence à retrógrada MPB, MPB que muitos novos não gostam, não curtem, gostam mais de letras mais simples, ritmos mais fáceis, bem o tipo de tudo que vemos hoje em dia onde o que é fácil, não necessariamente bom, mas, que sendo fácil e útil vai ao encontro do prazer, da necessidade da massa e, assim sendo, vira sucesso. Um sucesso em que não, obrigatoriamente, o inteligente, o de bom gosto tem lugar e, sendo assim, o inteligente e de bom gosto fica mais para um nicho. No caso da MPB, mais para os não muito novos (retrógrados que nem eu, talvez em extinção). Mas, é o que é. É o mundo em mudança.
Mudanças também para melhor. Mesmo que lentas.
Dizem (Quem Me Dera)
ARNALDO ANTUNES
o mundo está bem melhordo que há cem anos atrás, dizem
morre muito menos gente
as pessoas vivem mais
ainda temos muita guerra
mas todo mundo quer paz, dizem
tantos passos adiante
e apenas alguns atrás
já chegamos muito longe
mas podemos muito mais, dizem
encontrar novos planetas
pra fazermos filiais
quem me dera
não sentir mais medo
quem me dera
não me preocupar
temos inteligência
pra acabar com a violência, dizem
cultivamos a beleza,
arte e filosofia
A modernidade agora
vai durar pra sempre, dizem
toda a tecnologia
só pra criar fantasia
deuses e ciência
vão se unir na consciência, dizem
vivermos em harmonia
não será só utopia
quem me dera
não sentir mais medo
quem me dera
não me preocupar
quem me dera
não sentir mais medo algum
Linda música.
Bem o que vemos atualmente, ainda bem. Ainda bem que bem diferente do que um dia já vimos.
Trata-se de uma mentalidade, atualmente, bem comum: A mentalidade da informação.
Hoje todos nós vemos, todos nós ouvimos, somos quase telepatas. A tão sonhada telepatia de outrora hoje está ao alcance de todos (mesmo que ainda não seja aquela, a qual nos ensinaram ser a comunicação de seres mais evoluídos), ainda assim está aqui, celularmente, falando. Um aparelho, um conforto, um algo a nos proporcionar coisas impensáveis em outros tempos (sonháveis sim, alcançáveis... só agora) e com isso um mundo vigiado, olhado, comunicável, acontecível. Um mundo incrível onde todos estamos de olho em todos, e querendo só o melhor, um melhor que acontece depressa, cada vez mais depressa, uma evolução veloz a nos apresentar, e nos presentear, coisas e realidades boas a cada dia, mesmo que não na velocidade que gostaríamos - queremos sempre mais. Um mundo que não é mais uma utopia.
O sonho do passado é a realização do presente a nos apresentar e presentear um futuro cada vez melhor.
Claro que temos medo. Não sentir medo algum, como o querido na música, esse sim é uma utopia. O medo está intrínseco à nossa existência, ao nosso plano devido ao fato de nós estarmos aqui em matéria e, sendo matéria, nós nos sabemos falíveis. Uma falência que a única certeza que temos nesta vida, a certeza de que um dia, cedo ou tarde, iremos falir, nosso corpo se ir. Mas, graças a nós cada vez mais preparados, melhor preparados cada vez mais, graças a Deus e seus desígnios de nos permitir cada vez mais o melhor, aprendermos mais para nosso melhor, onde evidenciaremos cada vez mais o que queremos, conquistaremos cada vez mais o que nos seja bom, como por exemplo: vermos e vivermos os bons exemplos; uma cada vez melhor qualidade de vida para todos; um cada vez maior respeito à vida; um cada vez maior respeito a nós mesmos enquanto no interesse sim, também de nossa própria existência.
Sabemos, contudo, que nem tudo são flores.
Mas, sabemos que tudo é amor. Tudo vem de Deus e sendo assim converge para o melhor cada vez mais.
Desafios sempre irão ocorrer: guerra entre interesses e forças.
Mas, ao final sempre a vitória do bem. Sempre.
Agora mesmo eu falando de mim, da realidade que vi e que vejo, falando do dois caminhos que vi em outros tempos - resignação ou revolta.
Tive a graça, graças a Deus, de ter optado pela resignação.
Não fui e não sou tudo o que eu gostaria de ser ou ter sido (isso em todos os aspectos), não mesmo.
Mas, também não fui e não sou todo o mal que eu poderia ter sido e ser. Neste aspecto, só tenho a agradecer pelo que me tornei, onde gosto muito de muito do que vejo, muito do que me vejo. E isso me faz bem, muito bem. Um bem que só pode ter vindo de uma fonte: da fé.
Naquela minha realidade passada de desânimo, desesperança, descrença no sistema, no que eu via, um dia me vi numa situação de escolha. Escolha como um caminho a se dividir em dois caminhos, mesmo.
Uma tarde, depois de muito sofrer, desempregado depois de muitos subempregos (subemprego mesmo, sem direitos, pouquíssimo salário, ainda assim quando subempregado), naquela tarde duas escolhas, dois caminhos: peguntei pra Deus (perguntei mesmo) se deveria eu aceitar as drogas que meus amigos estavam me oferecendo, se deveria ser aquele o caminho que eu deveria seguir, ou se (olhando para o outro lado e vendo uma escola) eu deveria me fazer forte, estudar, buscar o sucesso com o qual um dia eu sonhara.
Optei por estudar (resignação).
Ainda bem.
Graças a Deus, mesmo.
Cresci, venci, perdi. Muitas coisas acontecem no decorrer de uma vida.
Contudo, considero-me um vencedor. Muito mesmo.
Tive, e tenho, filhos lindos (sentido da vida), consegui status (que já se foi há tempos também - não se trata do objetivo certo da vida, pra mim não), consegui uma condição razoável de vida. Enfim sou grato a Deus por minha vida. E quando falo isso, me refiro a tudo.
Gosto muito do que a vida me foi e me é, do que me tornei. Pelo menos a maior parte.
Muitos daqueles meus amigos já não existem mais. Eu estou aqui acontecendo de uma forma que me agrada, e isso me faz bem. Me agradar da maior parte do que eu mesmo faço por mim, do que faço, do que sou, me faz bem.
Da minha busca.
É bom.
E nessa busca tive a graça de ter conseguido levar uma vida relativamente, confortável. Relativamente boa.
Mesmo em meio ao caos.
Sou muito grato a Deus por tudo que a vida me foi. Muito mesmo.
Graças a essa conjuntura de fé e força, digamos assim, tive a oportunidade de ter uma vida acima de padrões. Aqui entra a última parte desse texto.
A última parte deste agradecimento misturado com fantasia, de história misturada com visão, com forma de ver.
Voltando á realidade difícil do que era o Brasil de anos atrás, do que era o Brasil de anos atrás que eu via e conhecia, eu tive a graça, a sorte, a benção de viver a maior parte de minha vida longe dos maiores problemas sociais vivido pela maior parte da população.
Assisti, meio que só vendo mesmo sem ter que viver na carne, todo o drama da maioria das pessoas. Sempre vendo com tristeza por certo o fato de nem todos terem o melhor tratamento de saúde, o melhor ensino, a melhor segurança.
Ainda hoje, muito triste vermos muito do que vemos.
Mas, com tudo isso, mesmo com todo o sofrimento que vemos, que vejo, ainda assim, vejo um mundo melhorando. Sei que existe muita coisa errada ainda, certamente.
Certamente.
Mas, pra mim, como na música do Arnaldo, eu vejo um mundo melhor a cada dia.
Voltando um pouco à minha vida digo que tive a graça, a benção de não ter de me reportar muito a hospitais públicos. Hospitais públicos que, no Brasil, sempre foram alvo de críticas por causa de desmandos, por causa de mazelas de governantes (maus governantes, governantes corruptos) sempre ficaram aquém do ideal do que haveriam de ser hospitais ideais para tratarem as pessoas. Falo isso num misto de alívio e tristeza.
Alívio pois, graças ao fato de eu ter podido me cuidar melhor é que estou aqui hoje. Pra se ter uma ideia, somente no espaço de um ano tive de fazer cinco cirurgias. Nasci com um problema de saúde e se não tivesse podido me cuidar digamos, convenientemente, certamente eu não estaria aqui hoje.
Já, a minha tristeza, deve-se ao fato do ter visto durante boa parte de minha história, e até hoje não vejo as pessoas sendo atendidas, adequadamente, em seus problemas de saúde. É triste isso.
E é comum. Basta ligar a TV e assistir um noticiário, sempre veremos matérias quanto aos não, ou maus, atendimentos do povo em hospitais públicos brasileiros. Sempre.
Até quando, eu não sei.
E isso com relação a tudo no Brasil, qualquer setor: saúde, educação, segurança, justiça, energia, infraestrutura... Tudo. Tudo com falha.
Contudo, aqui uma observação. Uma observação agradecimento.
Recentemente, tive a oportunidade de ver uma matéria (também de telejornal) sobre uma brasileira acidentada no exterior (não me lembro o país). Ocorre que ela tinha de voltar o mais rápido para o Brasil pois, lá ela não poderia se tratar, por não fazer parte das pessoas de lá (foi o que entendi). Uma situação humilhante onde ela, a brasileira acidentada, estava se vendo em que, sem tratamento, a saúde pioraria cada vez mais, a ponto de se tornar irreversível. Irreversível por causa de um não tratamento, um não tratamento por causa de uma política desumana. Foi o que entendi e achei horrível
Creio que ela voltou e se tratou. E agora há de estar boa, espero ter notícias desse caso.
E, neste aspecto, fica aqui, agora, meu agradecimento ao Brasil, ao governo brasileiro, ao governo do Distrito Federal, ao rumo que o país está tomando, ao que nós estamos nos tornando. Fica o agradecimento de um brasileiro agora orgulhoso de ser brasileiro, já de muito tempo orgulhoso de ser brasileiro e brasiliense. Muito mesmo.
Sei que vivo em um mundo falho, em um país falho, numa realidade falha.
Sei que têm muitas coisas a serem corrigidas em qualquer esfera de nossa existência, sei mesmo.
Mas, o que vejo acontecendo em meu país, em minha cidade, ao longo dos últimos anos, muito do que vejo me faz muito bem, me dá orgulho, e eu gostaria de agradecer.
Obrigado por estarem ajudando milhões de compatriotas com programas sociais, com assentamentos em casas decentes, com ensino público (que mesmo que não esteja melhorando, mas, que creio está, ainda assim existe, ao contrário de outros países por aí a fora que não têm ensino público, que não têm saúde pública). Obrigado. E fale mal quem quiser, eu não.
O que vejo são governos e um país se tornando cada vez mais humano, cada vez mais competente na busca pelo atendimento das necessidades do povo.
Obrigado.
E, como exemplo, quero finalizar relatando, um pouco mais, o que foi a experiência que vivi no Hospital da Ceilândia nestes últimos dias e que ensejaram essas minhas palavras.
Poderia eu falar mal? Sim. Mas...
Não é o caso.
Não mesmo.
O que vi foi um hospital limpo, formado por pessoas centradas cada qual
ciente de suas responsabilidades, responsabilidades as quais cada um
desempenhou sempre otimamente: remédio suficiente e adequado sempre na hora
certa, atenção, competência e capacidade, respeito. Vi uma verdadeira equipe a
tratar, literalmente, com humanidade, pessoas advindas das mais diversas partes
do país que para cá vieram por esperança de um tratamento que não tinham, que
não tiveram em suas cidades/estados natais (e não têm mesmo). Tanto que não
pensam duas vezes e vêm pra cá se tratar e eu vi, com muito orgulho, minha
terra acolhendo e oferecendo tratamento e recuperação a pessoas (engabeladas,
destratadas, desrespeitadas em seus problemas em suas próprias cidades). Já não
de hoje sei da fama de nós brasileiros sermos vistos como um povo alegre, de
bem com a vida, porém, me fez muito bem ver o tratamento acolhedor, respeitoso
e quase perfeito, aos que vêm para Brasília à procura de tratamento de saúde em hospitais públicos. Achei
incrível, achei lindo, maravilhoso, respeitosamente maravilhoso. Bom demais
saber que minha cidade não nega ajuda.
Que felicidade.
Quase perfeito. Ficou só no quase somente pelo fato de o que vi no
pronto-socorro de ortopedia. Não gostei de ver pessoas por corredores, pelo
chão, a sofrerem sem conforto às vezes por dias. Fica aqui uma observação dirigida
ao governador.
Senhor Governador, todos os anos vemos notícias de que os governos não
conseguem gastar toda a verba que lhes é destinada pelo governo
federal. Pois gaste, Senhor Governador.
Amplie aquele hospital, melhore as condições do pronto-socorro.
Trata-se de um hospital grande, mas, que pode ficar maior, atender
melhor. Está em um terreno grande e que pode ser mais bem aproveitado em prol
de um melhor atendimento. Apenas essa observação digamos, negativa, quanto ao
que vi.
No restante, só perfeição.
Vi uma equipe. Equipe na concepção exata da palavra equipe, a qual merece tudo de bom, merece ser valorizada e respeitada.
Vi pessoas competentíssimas executando suas atribuições não só por obrigação ou salário, mas, por amor. Amor à profissão, amor ao próximo, amor. Amor que estava estampado nas faces e demonstrado nos gestos e ações.
Vi essa equipe salvando uma pessoa que, certamente, não estaria mais entre nós se não estivesse, naquele momento, naquele ambiente, naquele hospital, entre aquelas pessoas.
Obrigado a vocês todos.
Obrigado por tudo.
Obrigado por terem salvado meu pai, por o terem tratado tão bem, por tratarem tão bem os que a vocês recorrem.
Peço a Deus que não só continuem assim, como se aprimorem mesmo, cada vez mais. Na intenção de um cada vez melhor atendimento e que todo o aprimoramento que a vida lhes apresente lhes sirvam também para um, cada vez mais, melhorar de suas próprias vidas.
Obrigado.
Jeff
28/02/2014
No restante, só perfeição.
Vi uma equipe. Equipe na concepção exata da palavra equipe, a qual merece tudo de bom, merece ser valorizada e respeitada.
Vi pessoas competentíssimas executando suas atribuições não só por obrigação ou salário, mas, por amor. Amor à profissão, amor ao próximo, amor. Amor que estava estampado nas faces e demonstrado nos gestos e ações.
Vi essa equipe salvando uma pessoa que, certamente, não estaria mais entre nós se não estivesse, naquele momento, naquele ambiente, naquele hospital, entre aquelas pessoas.
Obrigado a vocês todos.
Obrigado por tudo.
Obrigado por terem salvado meu pai, por o terem tratado tão bem, por tratarem tão bem os que a vocês recorrem.
Peço a Deus que não só continuem assim, como se aprimorem mesmo, cada vez mais. Na intenção de um cada vez melhor atendimento e que todo o aprimoramento que a vida lhes apresente lhes sirvam também para um, cada vez mais, melhorar de suas próprias vidas.
Obrigado.
Jeff
28/02/2014